quarta-feira, 14 de março de 2012

O pastor de classe média que vendia seguros

Havia numa metrópole, diante tantas e tantos, um excelente vendedor de seguros dedicado e ao mesmo tempo pastor evangélico. Exercia bem as duas funções, graças ao Senhor (S/A), um megaconglomerado transnacional capitalista teocrático invisível, onisciente e onipresente, materializado na confiança de inúmeras pessoas jurídicas, títulos imobiliários, câmbios, apólices, títulos de capitalização, hedges, derivativos, ações, precatórios, debêntures e muitos outros títulos financeiros, mantendo, alimentando e sustentando a estrutura social vigente.

O pastor, como qualquer outro, entrou para o Senhor (S/A) como servo e cresceu um pouco dentro da eclesiástica complexa hierarquia empresarial pública da instituição, mais especificamente numa dentre tantas corretoras que vivia mudando de titulares e razão social, apesar de no fundo pertencer ao Senhor, que poucos mortais iluminados no mundo chegariam perto.

Enquanto corretor, o lema dele era: ‘O Senhor é meu pastor, e nada me faltará (se eu atingir as metas!)’. Assim aprendeu rapidamente a resolver todos os males das pessoas e dele (principalmente). Com o mesmo terno que vendia seguros, e que de dois em dois anos se candidatava, ia direto aos cultos pregar para se libertar, garantindo aos fiéis a salvação, proteção, a fé e a esperança que o Senhor daria tudo às pessoas no momento certo e na hora certa, além de que o Senhor tinha promoções e condições especiais no final de mês de batimento de metas.

Ele, o corretor e pastor evangélico, era um mestre na arte da persuasão, sabendo abordar as pessoas sempre com uma estória para acalmar e comprar a atenção, num carisma incrível, que contagiava as pessoas a assinarem sem perceberem todos os tipos de apólices de seguro. Mês passado mesmo ele aproveitou a moda dos filmes e seriados de vampiros e zumbis, tornando-se até o momento o maior vendedor de SEGUROS REVERSOS DE VIDA, aqueles que pagam ou debitam caso o finado ressuscite, uma segurança para aqueles que desejavam certos indesejáveis mortos, por exemplo.

Os opositores que o pastor enfrentava eram denominados demônios, sejam os concorrentes, ideias, produtos, pessoas subversivos às vontades dele e do Senhor, pois estes ameaçariam todo o sistema e hierarquias instituídas! As sessões de descarrego eram excelentes para converter demônios em servos, numa eterna guerra santa de lucros atuários elevados e caça às bruxas sem precedentes, que evitou crises financeiras piores com desemprego em diversos lugares do mundo, principalmente os que se revoltaram com o Senhor, inclusive nos países ditos desenvolvidos!

Assim, graças à ignorância e ao Senhor, o pastor corretor seria feliz para sempre!

4 comentários:

  1. É a máquina a embasar toda esperança, fé, o vazio humano (utilizando -se deste) e a linha de montagem das engrenagens na grande consciência mor fundamentada no capital.true story.

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    1. Achei muito cômico o relato do pastor que era um dos melhores vendedores de seguros de uma agência bancária! Isso mais seus relatos me inspiraram em criar esse "belo personagem fictício de qualquer semelhança é mera coincidência". Obrigado pela postagem!

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  2. Vocês são demais!
    Uma idéia se torna uma excelente produção.
    Boa Mau!

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    1. Obrigado por sua opnião! As idéias são construções coletivas!

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