domingo, 10 de junho de 2012

Aos domingos, dê oferendas ao cão

À anti-hipocrisia,
Alimente o cão abandonado,
Amigo do homem,
Inimigo ao mal ao homem:
Aquele que o alimente com oferendas.
Esqueçam suas pseudo-entidades,
Ignorem seus antepassados,
Desglorifiquem vossos egos.
Há alguém e seres reais:
Dê oferendas à alguém...
... E ao cão abandonado.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Os guias

Guias são aqueles que orientam, direcionam, sugerem e propriamente guiam os fluxos, os seres, as coisas, os personagens, os sinais e até as pessoas. Assim como o antigo Pajé Tapuamã dizia que os rios eram os guias da vida pelos peixes que ali fluíam, o sol é o guia da energia da vida ou a lua cheia era o guia dos guerreiros da noite. O próprio pajé era o guia da tribo, curando, ensinando e tomando decisões difíceis, fazendo uso desde plantas para guiar a cura, ritos e cantos para guiar a inspiração daquele povo ou ainda alguém delegado de tarefas tornava o indivíduo encarregado guia da tarefa delegada. A tribo tinha também memórias, tradições e a natureza para guiar nas mais diversas atividades. Se diante tantos guias ainda faltasse algum, inventavam mais, tipo uns espíritos ancestrais!

O tempo foi passando, aquele povo migrando nas proximidades e sucedendo-se pelos “mais fortes”, até aquelas terras tupamânicas tornarem-se hoje o bairro metropolitano Distante, com condomínios de pessoas encaixotadas. Essas “novas” pessoas tinham alguns guias diferentes para cada ocasião: o álcool para guiar o alívio à dor, cigarros para guiar a calma, telas luminosas para guiar o “lazer”, apartamentos de um metro quadrado para guiar a segurança, empregos para guiar o dinheiro que guia coisas mercadológicas que no fundo guiavam pouco para essas pessoas, guiando mais o funcionamento do sistema realimentado e escravocrata. Não havia mais pais ou mães para guiá-los, apenas farmácias vendendo vários guias.

Mesmo diante guias tão exóticos, essas pessoas continuavam desorientadas e sentindo falta de algo. Esqueceram que os mundos, mundos mesmo em plural, tem infinitos guias e que as possessões de certos guias tinham preços de liberdade e sabedoria comprometidos, tornando essas mesmas pessoas cada vez mais dependentes e ignorantes, portanto impossibilidades de acessos à outros guias.

Segundo o lendário pajé, todos os guias tinham seu custo, não tanto quanto esse povo do bairro Distante acreditara, mas por vezes requereria, dentre outros recursos, de sacrifícios, como a morte de uma planta para fazer o guia elixir de cura conforme a necessidade. As guias tradições também custavam às gerações posteriores ritos transfigurados sem sentido. O pajé também dizia que a consciência, o livre arbítrio, a memória, a vontade e os desejos eram guias pessoais genuínos que cada um tinha que respeitar e ouvir mais pois revelavam curas, mistérios e poderes, apesar que nem mesmo ele estava preparado para todos os poderes potenciais destes guias, que normalmente custam conflitos de todos os tipos.

Leitor, seja você morador do bairro Distante, ou não, saiba que até este texto foi um guia, limitado como qualquer outro. Há muitas literaturas e tradições fazendo classificações dos tipos de guias e até moralizações dizendo se um guia é bom ou ruim, limitando a totalidade de guias potenciais. Você está rodeado de guias, sendo você mesmo um plural de guias. Você é livre para escolher seus guias, aceitando ou não as sugestões deles, ou você é escravo dos seus poucos guias?