segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Desejos em telas coloridas

Há muito desejo: desejo de fazer algo por partes, quais tantas partes pequenas, torna o conjunto mais completo. Conversávamos a esse respeito, mas ela não se importava. Não sei porque me ignorava tanto, ainda que suspeitasse que as telas coloridas entretesse mais que qualquer coisa.

Telas coloridas eram as drogas do momento, viciavam muito. Jogos de recompensas então, prendiam seus usuários, cujos os desejos, quais nem nos recordávamos, geravam certa preocupação do que nem conseguíamos lembrar da realidade.

Realmente a realidade é muito cruel: abandono, injustiças, enfermidades, acusações, negligências... Não sei como conseguíamos viver dessa forma! A fuga da realidade, como viver num mundo de Nárnia em um armário era muito comum. Mas não tínhamos consciência. Não conseguíamos mais dialogar. Era muito estranho, até alguém lembrar se existíssemos.

Era tudo muito desconexo, tanta quanto qualquer narrador ou qualquer leitor, de qualquer outra coisa que roubasse brevemente atenção.

sábado, 21 de agosto de 2021

Virtudes: paciência

É uma afronta pedir paciência pra quem não tem. Paciência é uma virtude à ser cultivada. É possível ser paciente no leito do hospital, que também deverá no seu tempo de recuperação ser paciente no processo de cura, como os impacientes que aos poucos adoecem de ansiedade, medo, angústias, pressa, pressão, problemas do coração. A virtude da paciência é observar, perseverar, cultivar, respeitar o tempo de cada etapa que se sucede, aceitar. Jamais peças paciência à alguém, seja o exemplo: seja paciente, esteja paciente, cure-se. Ao curar-se, todo o universo ao redor estará se curando de todas as afrontas contra essa e outras virtudes.

domingo, 22 de novembro de 2020

Not

Something happened,
Perhaps nothing,
Maybe everything are closed.
Why? You should take easy,

Noir

Não há palavras ou memórias.
Quizá repetições:
Acordar, comer, trabalhar, dormir..
Ciclos saturados sem nome.
Pudera tudo ser, ter.
Há conflitos em tudo:
Contradições internas,
Ou vomitório coletivo?
Só memórias acusatórias,
De alguém.
O perdão foi passado.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Deixas

"Pare de falar merda!", disse ela tão confiante de si. "Reaja!", disse a agente. "Confie em mim!", disse mais uma vendedora de serviços que nem ela acredita.

Há muitos diálogos neste palco. Os personagens em algum momento tomam consciência de si, mas outros continuam concentrados nos seus papéis, por exemplo: A filha que já é mãe se percebe no espelho de suas atitudes passadas. O comandante percebe as injustiças das ordens na contradição de quem desobedece ele mesmo é também um transgressor.

O mundo está cheio de contradições, aliás somos as próprias contradições: Onde já se viu comparar botas com calças? Ah, mas... Chega de julgar! Aceite as deixas dos papéis, delegue! Chute a bola para quem quiser aparecer pegar... Se ninguém quiser pegar, convença que é bom, excelente, oportunidade. Aceite as deixas das falas para o próximo quebrar a corrente, nada faz sentido mesmo.

Entender só vai piorar as coisas. Aceite como são e siga onde parou.

Alguém qualquer

Cada um tem seu tempo e entendo perfeitamente quando responde, se responde ou se quer responder. Vale para o meu lado também, por às vezes estar ocupado, com insônia tentando superar ou multitarefa.

Sou humano na limitação biológica que também vai ao banheiro, dorme, se alimenta, habita algum lugar no seu tempo espaço. Máquinas são rápidas, descartáveis, rotuláveis, apesar que estas também falham com restrições de software, requisitos ou rede. Portanto, se perceba e saiba quem julgar não seja apenas seu espelho, num retrato de Dorian Grey.

Sentimentos destroçados, do próprio inferno que construiu, os personagens criam expectativas irreais. Esperam a morte em algum instinto de caça. Vigiados, presos nas opiniões, mantém crenças para canalizar desejos. A saciedade intangível, querem cada vez mais e são consumidos. As doenças físicas ficam pequenas diante as dores da alma. Você construiu seu próprio inferno.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sincronicidade

Meu amor, esta carta nunca foi escrita: está escrito nas estrelas. Jamais escrevi algo para ti, por falta de uma música. Não é qualquer ritmo, é o nosso ritmo, o ritmo de cada um.


Danças conforme a música? Assim como brigamos pois esse ritmo que escolhemos, ou amamos pois é o ritmo que decidimos inconscientemente: é livre arbítrio coercivo.


Nunca te amarei pois estou sincronizado com algo muito além. Muito além dos mosteiros daqueles proibidos de casar com vos. Muito além das escrituras dos velhos livros. Muito além das nossas virtudes. Muito além de todos os exemplos.


Não posso e não quero explicar a sincronicidade do universo. Não quero explicar a nossa sincronicidade, apenas senti-la. Os pronomes clamam vossos egos, limitados das projeções dos nossos limitados seres. Não sou, não és, não é…. Não somos, não sois, não são. Tampouco estamos nessa fútil língua.


Diante tantas possibilidades de dançar, nessa eterna dança, limitas-te na tua essência: no teu limitado contexto, no teu sentimento mesquinho, no teu precipício, no teu despertar. Sou cigano, por isso sou eternamente estrangeiro de mundos limitados. Também posso ser nada, como és, ó minha amada diviníssima amada, limitada na projeção da mãe terra.


Não temos tempo para sincronizar com tudo, mas em cada pequeno momento, podes ser eterno, como é eterno apenas o eterno. A efemeridade é a certeza da limitação, pois não podes abraçar o universo, muito menos assumir todas as contradições com tanta coerência.


Nosso amor é sagrado, como um cavaleiro trovador protegendo sua amada. Nunca me entenderás, apenas me sentiras neste sincronismo deste exato momento.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Águas

O céu já não é mais azul:
Fechado como o tempo,
Contam que a falta de alguém me faz.
Faltam virtudes, falta-me paciência.
Tampouco, diante a estupidez,
Falta-te excessos de narcisos,
Numa janela para culpar todos,
No espelho para culpar-se.
Querida, já não estou nesta terra,
Esta terra é rica de hipocrisia,
Tão rica que tudo está sem sentido.
No interior encontrarás ele,
Alguém que ti deixaste para trás.
Vagas lembranças de onde viemos.
Deixo-te querida a saudade,
Saudades de alguém que está sendo trocado por outro,
Na esperança de encontrar alguém que te some ou complete,
Mas de tanto trocar já não és si mesma:
Tornas aquilo que cativas!
Diante todos, não podes expressar,
Diante si mesma, podes se libertar,
Como um anjo que corta os pulsos.
Querida, eu queria mas não quero mais nada,
Estar em teus braços é como estar nos braços das águas que me afogaram,
Lágrimas da incompreensão.
Por toda ausência que lhe desejo,
Tampouco amor ou ódio.
Não estou e não sou nada.
Do outro lado do mundo não há sol,
Pois a lua te ilumina prateada.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Minha amada Bucólica

Hoje os sertões estão encharcados:
Esperam na tempestade um raio,
Um raio de luz que renove-nos.
Esperam o que sempre foram...

A aurora começa cedo nos trópicos,
Pulsam vidas e escravos utópicos:
Vivos zumbis dopados,
Mortos livres descansados.

Ontem fizemos sempre o mesmo:
Mas a fatalidade dos amados,
Nos matou (sempre) ameaçados!

Amanhã, minha bucólica amada,
As fendas da terra abrirão nossos medos,
E algum dia seremos de fato livres!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Somos humanos

As nossas contradições nos destruirão!
Como Tupã sobre um chapadão,
Matará sua pele macia de pétalas, ao contraste áspero das pedras.

A ferida está na terra:
Por mal entendido você erra,
Por um risco, você me acerta,
Fechando a ferida dela.

Fui só um dia aquele raio divino,
As águas só encontrarão a terra uma vez:
No caminho da vida!

Somos insencíveis para as pequenas coisas,
Como um raio que atravessa-nos:
Nos separa e adeus.