sábado, 21 de janeiro de 2012

Só quem esteve no inferno sabe o que é paraíso

Estou com muita dor. Umas dores eternas. Sensação indesejável, a pior que já vivi. Dores intermináveis, sensações, ódio, raiva, medo. Recordo de várias lembranças vagas, mas não lembro porque estou aqui e tampouco sei onde estou. Memórias se vão em flashes rápidos, tão rápidos que parecem uma luz contínua. Não consigo me mexer, mas consigo flutuar. Não consigo acordar, mas consigo vagar. Já estou desistindo, isso me faz sentir melhor: Eis que surge uma paz instantânea! Desejável à amigos e parentes. Acho que eles estarão bem. Não tenho mais noção do que é ver alguma coisa, mas a paz continua mais intensa, sensação muito boa em relação à algum tempo. Não sei o que é tempo, parece tudo tão eterno e constante! Não sentindo mais nada, sem mais sentidos, sem mais luzes, sem mais dogmas... Estou livre!

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Os homens que se amavam

A cúpula secreta estava reunida, somente de homens, de várias idades e convicções. Tudo era comunicado em hierarquia, em códigos, condutas, olhares, favores de todos os tipos. Os que se revoltavam, geralmente os mais jovens e inocentes eram punidos de formas sádicas e sumariamente, para imposição das lideranças.

Os varões da sala secreta contavam comédias sem graças, faziam leis, cometiam calúnias, mentiras, impunham vossos poderes e prazeres, para satisfazerem-se.

Sim, todos lá se amavam, mas não sabiam o que era amor. Amor não enchia barriga, mas controlava todos os objetos femininos e masculinos submissos. Era uma ilusão aperfeiçoada geneticamente, também inventada pelos sacerdotes, poetas e publicitários, que já se foram das demais salas ocultistas, sejam elas escritórios, salas, mosteiros, saunas, bibliotecas, câmaras, lojas maçônicas. A perversidade masculina era mais real que o amor, por isso a idealização do amor, inexistente, era feminino e criador, enquanto o mal eterno era destruidor, metaforizados por demônios com longos, grossos e brasantes tridentes que passavam por vários ânus.

Por séculos esses homens secretos foram e serão assim, mudarão de endereços, mas serão os mesmos. Fazem eternas sucessões e lutas, representados por obeliscos, prédios grandes e compridos, espadas, armas e todos os objetos pontiagudos feitos pelos homens e para os homens perpétuos, pois os homens se amavam muito: o próprio ego. E nada mais.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A falta


Sempre que escrevo algo dito “literário”, deixo faltando algo: ausência de personagens, carência de detalhes dos personagens, pobrezas de objetos, de formas, de motivos, de finalidades, de competências, de emoções e por aí vai. Não que essa ausência de “algo” seja apenas deslize, mas também proposital por vários motivos.

Ninguém e nada que conhecemos é completo, pois se assim fosse, não precisaria existir ou manifestar existência. Seria tolice, diante tantos seres e coisas do universo que são incompletos, se esta entidade completa se manifestar, pois seria cobiçada pela própria natureza de buscar o equilíbrio e completude, abusando-se de algo que já está integro e não sendo mais.

O ser humano tem inúmeras carências também, e para supri-las busca quem ou o que tem excessos, seja um rio para saciar a sede, uma pessoa de bem com a vida para amar e magoar, drogas para curar algo, a religião para a falta de vontades orientadas, a sociedade para suprir e sugar. As faltas não são tão ruins, provocam trocas, movimentos e trazem riquezas de todos os tipos de valores materiais e imateriais, apesar de eventualmente ameaçar a existência. A oscilação de baixa e alta faz tudo funcionar, desde um motor até um coração. Questões como ser ou não ser, ter ou não ter movem as pessoas, as sociedades e as coisas também.

Acredito que a dualidade contraditória entre excessos e faltas é essencial para atingir a completude, assim como átomos compartilham-se para tornarem moléculas ou elementos constituem-se para formarem conjuntos. Não fique triste se te falta algo, mas privilegiado por estar vivo para compartilhar e simular completude, ou, como eu, na falta de leitores, escrevo o que me falta e meus excessos com menos pudores. É na falta que as pessoas valorizam. E você, o que lhe falta?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Conto: Qualquer semelhança ficcional é mera coincidência

Lá estava a funcionária pública: parada pela burocracia, inerte pelo poder hierárquico, apática pelas causas ditas sociais. Ela tinha mais inimigos que amigos na repartição, típico de mulher divorciada de meia idade e de outro estado naqueles escritórios burocráticos.

Vivendo numa bucólica cidade, amando os gatos do antigo apartamento recém adquirido ‘perto’ da autarquia, ia todos os dias ao trabalho de carro importado, sob longas prestações. Para estacionar, assim como os demais colegas de trabalho, ela recebia auxílio de uns flanelinhas traficantes subempregados para estacionar nos floridos canteiros e calçadas da cidade bucólica, afinal faltavam estacionamentos, pouco importando os cadeirantes ou pedestres que por alí passabam.

Ela dizia que todas as mazelas da cidade, falta de estacionamentos, falta de segurança, bueiros entupidos de panfletos de grevistas e tudo que era de ruim daquela cidade eram culpas do governo. Ela tinha esquecido que também era parte infinitesimal do governo enquanto funcionária pública.

Endividada pelas inúmeras prestações apesar do elevado salário, ela vivia frustrada, bebendo, sob inúmeros atestados médicos. Isso a motivava a desrespeitar mais as leis e ajudar no sindicato por greves de aumentos de salários, pois a vida perdia motivo nos anos que se passavam, por isso viajou mês passado.

Voltando das férias agora em janeiro depois dos reencontros com a família no longínquo estado de origem, estava ontem dirigindo sob fortes chuvas de verão pra retornar ao trabalho, já mais recuperada e motivada. De tão motivada, o carro não freou e bateu na traseira do ônibus.

Jaz carro importado. Jazem dívidas. Jaz funcionária pública. Mais um concurseiro feliz para ocupar a vaga dela e continuar a mesma história, sob hipocrisia e insensibilidade de todos.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Decadência

Rio da própria desgraça
Frio daquela mordaça
Rio da desgraça alheia
Frito e esperneio na feia
Rio da comédia sem graça
Tito, morto na praça
Rio decadente por pirraça
Mito de sangue na veia
Rio, rio muito da véia
Quito em terremoto sem ceia
Rio, sem motivo e trapaça
Fito e entedio na massa
Rio, rir me faça!
Grito ouço na teia
Rio de burro, leia!
Pito fumo e faço garça
Rio mais na cadeia!
Dito morte, perdeu a graça.

Fictícia

"Cansei, cansei de tudo isso!" Dizia a donzela. "Estou cansada de viver, cansada de sofrer, cansada de ser abusada, trabalhar que nem uma escrava! Não aguento mais, quero me libertar!". Dizia a fictícia personagem.

Quem era ela? Quem ela foi? De onde era? Por quais motivos tantas revoltas?

Em meio a multidão, ela não existia e sofria por isso. O autor, caridoso com a personagem, deixou-a dizer a última palavra: "Adeus".

Minimizando o sofrimento dela, num ato mortal e imoral, acabou com todo o sofrimento dela, matando-a, nunca mais escrevendo nada sobre ela. Logo a dor ficou ao leitor.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Teste no celular

Apesar da audiência baixa no blog, foi ativado o adsense ao blog: remunerador por anúncios. Será que vale a pena? Pretendo avaliá-lo.