terça-feira, 20 de março de 2012

Balé

O escritor amava a bailarina, uma escolhida dentre tantas. Mas a bailarina não amava o escritor, gostava mesmo do dançarino, que infelizmente não a amava. Fechando esse triângulo amoroso, o viril e forte dançarino amava o escritor, sendo este último amado também pelos leitores e leitoras. Mas o escritor amava somente uma pessoa: a bailarina.

A bailarina tercia belos e encantadores movimentos, girando e pousando no ar. A plateia admirava os movimentos aéreos dela, voando e retorcendo, segurada pela força do dançarino. Ele, o bailarino, desprezado pela plateia, pelo escritor e pelo leitor, sustentava a suavidade feminina da bailarina, dando vida aos movimentos que tanto o escritor descrevia.

O escritor era um inútil, apenas traduzia os expressivos movimentos das danças, expondo insensibilidades de todos para endeusar-se, enganando com inverdades os leitores e a bailarina que ele tanto amava, motivando-o nos textos e no coração, via ação das danças cotidianas. Assim a bailarina era o motivo da existência do escritor!

O dançarino invejava a bailarina pelo amor não correspondido do escritor. Desconhecido e ignorado por todos, ele sustentava todo o sistema, muito além da significância da bailarina. Ele já amou a bailarina quando a conheceu, mas o jogo de mentiras e intrigas gerou uma decepção amorosa profunda nele, até se apaixonar por aquele que tinha a atenção de todos, o mesmo quem escrevia e guardava profundos segredos, informações se reveladas poderiam arruinar todo o sistema de mentiras! Assim, talvez, esse amor ao escritor era apenas um desejo de poder, assim como as juras de amor públicas da bailarina era o medo dela perder o significado, a falta de amor próprio e a falta de valores muito além dos lucros das danças.

Ao leitor, apático e inerte nestas danças, como sempre e será, consumia e pagava por todas essas mentiras, desejando as famas dos lixos do escritor, assistindo tudo passivamente e incapaz de pensar que nas entrelinhas desta dança vocês, leitores, são cidadãs e cidadãos, enquanto o escritor (das leis) é o Estado, a bailarina são as empresas e o dançarino são os trabalhadores que sustentam as insensibilidades sem valores por um único valor...

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