sexta-feira, 2 de março de 2012

Financiamento da indústria criativa

A arte que liberta e salva, por mais ‘gratuita’ e ‘genuína’ que seja, precisa ser financiada, pois necessita de pessoal e insumos. Por isso a economia, ciência que estuda também os meios de produção humanos, pode explicar a criatividade enquanto poder transformador dos insumos brutos em bens, agregando valores imateriais e materiais aos produtos e subprodutos humanos, atendendo também as necessidades existenciais, autoestima, segurança, fisiológicas, conforme a tabela de necessidades de Maslow. Há também aspectos ideológicos em virtude dos meios de financiamentos que serão tratados mais adiante.

Precisamos e temos direitos de produzir, em primeiro lugar, e consumir subprodutos da indústria cultural, seja em qualquer modalidade elementar ou industrializada: teatro, cinema, pintura, literatura, música, escultura, arquitetura, design, softwares, jogos, dentre outros. Contudo algumas destas formas de artes precisam de intensivo financiamento de materiais e sustento aos produtores, com investimento inicial sem retorno imediato, como qualquer outra atividade econômica, para depois se vender a ‘obra’ em si ou os direitos. É um modelo limitado e obsoleto que não atende necessariamente realidade atual por vários motivos, dentre eles cópias digitalizadas dos recursos multimídias, da internet de essência livre, com antagonismo comercial: a arte de fato que nos ‘libertaria’ é privativa na internet livre, inviabilizando financeiramente, em teoria, a produção por diversos autores e coadjuvantes.

Assim sugere-se ‘modelos’ comparáveis de financiamento culturais adaptadas às realidades dos autores, financiando durante, antes e depois da produção, isto é, financiar obras no passado, presente e futuro. Como é e como pode ser isso? Que impactos há em cada forma? Vejamos algumas potencialidades:

- venda de obras materiais: é a mais comum, pode infelizmente ser descaracterizada ou escondida pelo novo proprietário e nem sempre é rentável.

- venda de direitos de obras imateriais: válida também aos recursos multimídias, pode ser uma venda antecipada, de algo à ser feito ou no presente. Tem essas e outras vantagens, contudo passível de censuras pelos novos portadores dos direitos e muitas vezes até esquecidos antes de entrarem em domínio público, como tantas músicas, filmes, livros e até mesmo softwares sob monopólios de grandes e tendenciosas gravadoras, distribuidoras e editoras.

- financiamento estatal direto: atendendo ao ‘interesse público’, verba pública paga obras encomendadas ou algo que já esteja encaminhado. Envolve burocracias de atender requisitos de editais e infelizmente interesses políticos que interferem ideologicamente nas obras artísticas materiais e imateriais.

- financiamento estatal indireto: o Estado garante à certos povos certos direitos e deveres, estes que dão suporte inicial para realização de obras. Assim, quando o Estado garante educação e acesso aos recursos do meio ambiente, os autores podem usufruir de recursos derivados deste, como escreverem por saberem ler e escrever.

- financiamento privado: altamente rentável financeiramente e passível de ser realizado à qualquer tempo. Somente obras que atendam a necessidade do cliente privado são viáveis, portanto com alta interferência ideológica nas obras por parte do ‘cliente’, portanto altamente questionável.

- financiamento privado ‘laranja’: pessoas e instituições às vezes devem favores umas às outras, então promovem as obras de umas e outras com intuito de pagar os favores, não necessariamente os direitos das obras. Assim explica-se, por exemplo, vários ‘bests sellers’ sem conteúdo, jornalistas defendendo causas infundadas, e muitos outros exemplos.

- uso de recursos naturais: a humanidade sempre usou e usará, enquanto houver, elementos residuais como pedras, pigmentos naturais, restos de animais, minerais, lixo, reciclagem, fazendo, por exemplo, cocares, pinturas rupestres, palco para atuar e muito mais. A criatividade é o limite para obras apoiadas diretamente por recursos naturais, sendo possíveis, sem anular a arte, tecnologias para a eficiência da finalidade artística, como o caso da confecção de instrumentos musicais precisos com materiais relativamente simples. ‘Financiar-se’ pela natureza é uma das formas mais neutras de influências ideológicas, exceto quando a exploração dos recursos naturais não é sustentável.

- propagandas associadas à obra: sejam comerciais na tevê, em alguns softwares que usamos ou na rádio comercial aberta, torna todo o conteúdo vinculado ‘grátis’ ao usuário, contudo tem elevada carga ideológica nitidamente vinculada às obras publicadas.

- ‘merchandising’: similar ao anterior vincula anúncio dentro da obra, afetando explicitamente as mesmas, seja no cinema, musicais, e nos softwares também.

- doações sustentáveis: quando os financiadores são múltiplos, sejam pessoas ou instituições, pois quanto mais diversas as fontes de doações, mais potencialmente saudável em vários aspectos é este financiamento, inclusive quanto às influências subtendidas nas obras produzidas, os patrocínios.

- associações e cooperativas: autores se reuniriam para produzir e dividir custos juntos. Pode e já funciona, é pouco divulgado, pode aproximar mais as pessoas produtoras-consumidoras, sendo, portanto potencialmente mais saudável.

Estas sugestões são passíveis de críticas por não estar ‘completo’, pois pretende exatamente levantar discussões e aplicações sustentáveis na produção artística seja por qual meio for. Nem toda produção cultural é realmente arte, por não ter princípio libertário e muita ideologização de financiadores.

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