segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Esboço do croquí do projeto-texto "diários de uma funcionária pública: 2 de janeiro de 2084"

2 de janeiro de 2084

Agora posso falar das minhas expectativas para esse ano, este diário é uma delas. Uma idéia que amadureceu nos últimos meses e agora é fato. Tenho que falar um pouco do meu cotidiano também, disso vem a palavra diário: relatos do cotidiano, intimidade, desabafos, descrições, falar de mim, lembranças do passado e por aí vai.

Diferente do que não escrevi ontem, hoje então vou falar de como foi as festas de final de ano, aliás muito legal esse ano novo, diferente dos outros anos que tive que passar em casa, seja sozinha, com alguns amigos e amigas, a minha pequena família, ou muito sexo, drogas, músicas e jogos!

Desta vez foi diferente dos demais: foi num templo ecumênico. Estranho para as pessoas né, passar o ano novo num templo religioso?! Mas foi, num lindo templo no meio da mata ainda preservada da Amazônia, na beira do rio, ouvindo a algazarra das aves durante o dia e os sons de sobrevivência dos animais noturnos, sejam os mais estranhos barulhos de todos os tipos de sapos, morcegos, gritos de corujas..

É uma pena que certas pessoas ainda tenham preconceitos destes animais noturnos, muito associados à azar. Minha bisavó paterna dizia que sons de coruja são sinais de tragédia por vir, mas meu pai, do qual guardo muitas saudades, dizia que não, os gritos das corujas era sinal de vitalidade, força, personalidade, sobrevivência, pois cada um tem a dor e a delícia do que é, logo o instinto da coruja era sobreviver caçando pequenos animais e serpentes, delícia para a coruja e dor para as presas. Aí caçando as presas, haveria equilíbrio dentro da natureza, evitando a reprodução exagerada de certos répteis, pequenas aves e mamíferos. Diferente da sociedade humana que ainda prevalece a lei do mais forte e adaptado, mas não temos predadores além de nós mesmos para frear esse querer mais e mais.

Pois bem, o templo além dessas belezas naturais tinha estrutura para receber muita gente. Tinha várias congregações e ramificações desta igreja e no mundo inteiro, mas essa era a que eu mais gostava e mais bela que a sede, em Alto Paraíso de Goiás. Neste templo havia mescla de várias crenças, sejam judaica-cristã, religiões africanas, misticismos diversos, ritos xamânicos. Tudo isso e influências de várias culturas e povos criaram essa religião misturada mas original, refúgio de todos os tipos de pessoas, etnias e crenças, sejam ex-malandros, prostitutas, trabalhadores braçais, intelectuais, drogados, loucas, asiáticos, evangélicos, políticos, militares,... todos unidos por uma causa, a paz comugada do elixir sagrado com cada um!

O elixir tinha vários nomes, várias formas de preparo, baseado em algumas plantas amazônicas. Nos templos dos Estados Unidos da Europa o elixir era bem sintezados em dois comprimidos, um vermelho para alucinações com seu eu e um outro azul para voltar à realidade e sair do estado alucinógeno e reduzir a dor. Esses comprimidos eram mesclas de vários princípios ativos de várias drogas e lá eram sintetizados por várias farmacêuticas. Aqui no Brasil do Centro-Sul também temos, mas as ervas originais são preservadas por tradição e valem muitíssimo mais que os comprimidos. E para nós os mais fracos espiritualmente tinham que usar as drogas mais pesadas para terem êxtase, enquanto os mais evoluídos espiritualmente usavam das mais leves ou nenhuma! Conseguiam entrar em transe meditando, trabalhando, estudando. Eu já devo ser uma intermediária, preciso dos meus remédios para dormir e acordar, também azuis e vermelhos.

Lá no templo, além de termos tomado o elixir, dançamos, cantamos, nos abraçamos numa grande fraternidade! Tudo foi mais intenso que das outras vezes. Foi muito bom para eu esquecer meu ex-namorado, mas como nossa carne é fraca, acabei lá conhecendo o Pablo, um peruano alto, meigo e muito gentil por sinal. Trocamos alguns olhares durante toda a noite, além de outros que acabei ignorando, e quando no amanhecer de ontem estava vomitando, acabei tropeçando nele e acabamos trocando algumas idéias até minhas amigas me chamarem. Só hoje acordei exausta e Pablo acabou de me mandar uma mensagem na rede social dizendo: “Vamos jantar para conversarmos melhor?”. Aceitei o convite, trocamos mais mensagem, afinal não tenho nada à perder. Amanhã conto como foi.

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