sábado, 26 de maio de 2012

Maria Rosa do Contestado

Uma personagem gastava todas as suas energias, recursos e forças em futilidades, desperdícios e emoções vagas. Se não bastasse, a personagem achava que os demais tinham obrigação de emprestar e dar recursos à mesma para manter a chama do seu ciclo vicioso. A ilusão desta personagem era imensa, ilustrada em possessões por coisas e objetos diversos.

Quanto mais ela tinha, mais ela tinha de cuidar das coisas que detinha, o verdadeiro desperdício de forças! Ela brigava com todos por causa destas posses, não respeitava nem a si própria. Estas possessões a cegava de ver além, reduzindo-a ao consumismo sendo consumida: seu tempo, ânimo, atenção, vontades, recursos, discernimentos, moral, auto-disciplina, caráter e muito mais... Acabando!

A cura para isso era ilusória, todas ilusórias. A maioria defendia mais coisas e pessoras para se apegar e consumir. Outros, principalmente uns vendedores de aventais e roupas brancas impecáveis, aliás apenas estas roupas eram brancas, pregavam desde placebos de trigo e vinho, além de receitas de substâncias que "corrigiam" algo, sob preços absurdos, inclusive com sequelas, mas só disfarçavam, não curando o essencial e o resto... A lei de Ávis daquela personagem geravam comportamentos obsessivos, nervosismos, embriaguez, manias, desavenças, busca extensiva de culpados e fazer-se de vítima. Não era apenas esta lei que pertubava a personagem, haviam outras: Lei de Canis familiaris, Lei de Tributum, Lei de Maria Rosa Contestado, Lei de Domum, Lei de Bibitor Potum, Lei de Victimam, Lei de Mentiri, dentre muitas outras.

Era triste o quadro dela e o remédio potencial, aquele que realmente curaria, estava se tornando mais amargo, pois esse remédio era o DESAPEGO! Este remédio em quadros profundos, como este, precisava ser dosado e discernido para não se tornar o inverso, um veneno mortal. De certo, a morte caía bem à todos, não a morte do fim, mas a mortalidade para o renascimento de algo novo, assim como contara infinitos mitos do renascimento da ave fênix ou a transmutação pelo fogo da matéria morta para a vida da nova safra.

Foi muito difícil ela tomar esse remédio do desapego que o Nagual lhe sugerira. Aos poucos, sem precipitações como ela sempre fizera, o desapego foi tornando o ser dela mais leve, permitindo-a conhecer-se melhor e aos outros por perder o capuz da ignorância já nos primeiros desapegos, mofados da umidade de lágrimas dos olhos que já podiam ver luz pela primeira vez. Os seres que ela tanto criara haviam asas fortes graças ao desapego, com muito amor e sem muitas preocupações por parte dela. Aos poucos dosando o desapego para que o efeito do conhecimento fizesse a verdadeira cura, redescobriu que ela era importante, que é preciso estar muito preparara para conhecer para então poder fazer, que podia amar e ser amada, que podia existir muito além do consumir. Descobriu também que tudo na vida precisa ser dosado como fazem os alquimistas, que precisa se conhecer para conhecer o resto, que a felicidade vem de dentro para fora, que não precisa de obsessores para ser feliz, que fazer ou deixar de fazer dará na mesma, pois alguém tem de fazer, e muito mais. Para a infeliciade, descobriu que tudo na vida carrega seu próprio mau ou auto-defesa para se prosperar. Percebeu num nível maior de desapego a totalidade. Foram muitos conhecimentos, o que está escrito é apenas a ponta do iceberg do aprendizado não necessariamente lógico, como o fogo de Prometeu.

Os anos foram se passando e os elevados níveis de desapegos aumentaram os níveis das asas do conhecimento dela. A sabedoria que ela atingira era tamanha que seu último desapego, num corpo frágil de fígado, rins e pulmões transplantados, fora para sempre, abandonando as águas com grandes asas de luz. Ela deixou de ser uma personagem e se tornara Maria Rosa do Contestado.

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